Médicos da África do Sul são acusados por tráfico de órgãos de brasileiros

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Segundo acusação, brasileiros e romenos receberam US$ 6 mil para vender seus rins a israelenses

16 de setembro de 2010 | 19h 08

JOHANESBURGO- Cinco médicos sul-africanos foram acusados de haver realizado transplantes ilegais de rim em israelenses com órgãos comprados de brasileiros e romenos, informa o jornal The Star nesta quinta-feira, 16.

De acordo com o diário, 109 operações ilegais feitas no St Augustine Hospital, em Durban, entre 2001 e 2003, quando o caso foi descoberto.

Os investigadores afirmaram que pessoas do Brasil e países da Europa Oriental foram levadas a África do Sul, onde seus rins foram extraídos para serem transplantados a pacientes israelenses.

Em uma declaração emitida hoje, a junta de diretores da rede hospitalar Netcare negou os crimes dos quais foram acusados a cadeia e seu diretor, o doutor Richard Friedland, à frente do principal hospital do grupo Netcare, o St Augustine Hospital de Durban, onde teriam ocorrido os crimes.

Segundo o periódico The Times, os rins “procediam inicialmente de cidadãos israelenses, mas logo foram recrutados cidadãos romanos e brasileiros, cujos rins eram muito mais baratos do que os dos doadores israelenses”.

Os israelenses receberam cerca de US$ 20 mil pelos seus rins, enquanto os brasileiros e romenos receberam em média US$ 6 mil, de acordo com a acusação.

A NetCare negou haver atuado de forma incorreta, e garantiu que se defenderá das acusações no tribunal. O julgamento pode ser iniciado em novembro.

 

http://www.estadao.com.br/noticias/internacional,medicos-da-africa-do-sul-sao-acusados-por-trafico-de-orgaos-de-brasileiros-,610960,0.htm

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Israelense chefe do tráfico de órgãos foragido

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Redação do DIARIODEPERNAMBUCO.COM.BR
17/08/2011 | 11h20 | Polícia

Gedalya. Imagem: Alejandro Zambrana/Esp.DP/D.A Pr

Imagem: Alejandro Zambrana/Esp.DP/D.A Pr

No dia 23 de setembro de 2012, o israelense Gedalya Tauber estaria livre da sua condenação por ter chefiado o esquema internacional que foi responsável por aliciar pessoas no Recife para venderem seus rins na África do Sul. A organização criminosa foi desarticulada pela Operação Bisturi da Polícia Federal, em dezembro de 2003. Gedalya, autorizado pela Justiça, deixou o Brasil em janeiro de 2009 e deveria retornar em 30 dias. Não voltou. O Diario descobriu que o homem é considerado foragido da Justiça desde então: há dois anos e seis meses. Uma informação que até mesmo o juiz de execuções penais do estado, Adeíldo Nunes, disse que só tomou conhecimento agora, por meio da equipe do jornal. O israelense teria aliciado cerca de 30 pernambucanos.

O israelense estava em liberdade condicional quando conseguiu o benefício. Como não retornou no prazo previsto, teve o livramento condicional revogado e a prisão decretada em 29 de outubro de 2010 pelo juiz Abner Apolinário da Silva. Está sendo procurado em todo o mundo, inclusive pela Interpol.

Depois de ser preso pela primeira vez, Gedalya passou por várias unidades prisionais até ir parar na Penitenciária Agro-industrial São João, em Itamaracá, em março de 2007, quando obteve a progressão de regime para o semiaberto. Em dezembro do mesmo ano, conseguiu a liberdade condicional, o que o obrigava a se apresentar à Justiça uma vez no mês. Inicialmente condenado a uma pena de 11 anos e nove meses, Gedalya conseguiu a comutação (redução) da pena em novembro de 2008 para oito anos e nove meses. Ele estaria respondendo pelos crimes de remoção e venda de órgãos e formação de quadrilha.

O alvará de autorização de viagem do israelense foi assinado pelo juiz Adeildo Nunes, em 16 de janeiro de 2009. O doc umento determinava que um oficial de Justiça fosse com Gedalya até o Aeroporto Internacional do Recife-Guararapes/Gilberto Freyre e o embarcasse no voo 0154 da TAP Portugal, às 19h15 no dia 20 de janeiro de 2009 para a cidade de Lisboa. O destino final seria a cidade de Tel Aviv, em Israel, com escala em Frankfurt, na Alemanha.

Procurado pelo Diario, o juiz Adeildo Nunes disse não se lembrar da autorização específica para a viagem do israelense, porém ressaltou que essa prática é legal e comum na Justiça brasileira. “Em situações excepcionais, o detento pode sair do país. No entanto, ele tem a obrigação de voltar no prazo determinado pela Justiça. No caso dessa pessoa, estou sabendo que ele não retornou porque você está me informando. Estava fora da Vara das Execuções Penais e voltei no último dia 8”, justificou. O magistrado ressaltou ainda que o procedimento adotado em relação à procura de Gedalya vale para todos os países. “Ele poderá ser preso se tentar viajar para qualquer lugar do mundo”, afirmou Nunes.

O israelense Gedalya, que era major da reserva do Exército do país dele, era considerado o “homem do dinheiro” da organização criminosa. Segundo a Polícia Federal, na época da investigação, Gedalya costumava vir ao Brasil, em média, de dois em dois meses, onde se hospedava no Recife para recrutar os vendedores dos órgãos.

http://www.pernambuco.com/ultimas/nota.asp?materia=20110817112019

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LDH crítica falta de lei contra tráfico de órgãos humanos

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21-07-2011 19:24
Moçambique

Maputo– A Liga dos Direitos Humanos de Moçambique (LDH) condenou hoje (quinta-feira) em Maputo a falta de leis contra o tráfico de órgãos humanos no país, apontando a lacuna como responsável pela impunidade dos autores dessa prática “repugnante”.

A presidente da LDH, Alice Mabota, enfatizou a ausência de normas punitivas contra o tráfico de órgãos humanos em Moçambique e na Comunidade de Desenvolvimento dos Países da África Austral (SADC), quando falava na apresentação em Maputo  de um relatório intitulado “Tráfico de Partes do Corpo em Moçambique e na África do Sul”.

O documento foi apresentado pela primeira vez em Fevereiro deste ano na África do Sul e refere que mais de duas pessoas são mutiladas por mês nos dois países, para a extracção de órgãos, que depois são vendidos a pessoas que acreditam que se forem tratadas com partes do corpo humano podem ter  “sucesso na vida”.  

O relatório aponta a África do Sul, o país mais forte economicamente em África, como o destino dos órgãos humanos e Moçambique como país exportador.

“Durante os 14 meses de trabalho de campo, houve 29 mutilações em Moçambique e na África do Sul, onde fomos capazes de conseguir um relato em primeira-mão. Estes números, mais de duas mutilações por mês, dão uma indicação da escala da actividade relacionada com o tráfico de partes do corpo humano”, refere a pesquisa.

Comentando os resultados do estudo, a presidente da Liga dos Direitos Humanos afirmou que o mesmo demonstra que o tráfico de órgãos humanos é uma realidade em Moçambique, depois de a prática ter sido oficialmente “desmentida”por muitos anos.

“É uma realidade extremamente séria, que merece a atenção de todos. Pelo dinheiro as pessoas são capazes de tudo, até de matar, para extrair órgãos”, sublinhou Alice Mabota.

A omissão das leis penais moçambicanas na criminalização do tráfico de órgãos humanos, considerou a presidente da LDH, incentiva a sua persistência e impunidade.   Por seu turno, Afonso Antunes, assessor do Procurador-Geral da República de Moçambique, também apontou a lacuna das leis moçambicanas e internacionais no combate ao tráfico de órgãos humanos como uma das fragilidades no combate ao mal.

“Não se compreende que uma pessoa encontrada na posse de órgãos humanos fique impune, quando a mesma pessoa seria punida se fosse encontrada na posse de determinados bens”, disse Afonso Antunes.   O assessor do Procurador-Geral da República moçambicano sugeriu que uma lei  sobre a matéria considere o portador de órgãos extraídos do corpo humano e os instigadores destas práticas como autores morais de homicídio.

“Não há cultura, etnia e sociedade que tolere que um feiticeiro instigue à morte e extracção de órgãos humanos com propósitos inconfessos.  Se as comunidades moçambicanas aceitassem essas práticas, não teríamos linchamentos contra os  alegados autores”, enfatizou Afonso Antunes.

Fonte: http://www.portalangop.co.ao/motix/pt_pt/noticias/africa/2011/6/29/LDH-critica-falta-lei-contra-trafico-orgaos-humanos,890704e4-6452-4c53-8f38-0ebc73e3a425.html

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Tráfico de órgãos no Brasil: íntegra da entrevista com a antropóloga Nancy Scheper-Hughes

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de 08.12.2003

Revista Época

O ESQUEMA DE ISRAEL

Pesquisadora diz que o tráfico funciona há 10 anos

Por EDUARDO BURCKHARDT

Foto: Reprodução/Jane Scherr

A antropóloga americana Nancy Scheper-Hughes, da Universidade da Califórnia, trabalhou mais de dez anos no Brasil e fundou a organização Organs Watch, para investigar denúncias sobre o tráfico internacional de órgãos. No ano passado, escreveu um livro sobre o tema.

ÉPOCA – Quando a quadrilha descoberta pela polícia brasileira começou a atuar?

Nancy – Pelas nossas informações, esse esquema nasceu há dez anos em Israel. No início, buscavam doadores entre refugiados palestinos. Mas o esquema foi denunciado por jornalistas e a quadrilha passou a buscar gente na Turquia e no Leste Europeu. Há cerca de um ano, descobriram os brasileiros.

ÉPOCA – Por que realizavam os transplantes na África do Sul?

Nancy – Durante o regime do Apartheid, os médicos de lá criaram centros de excelência em transplantes para a população branca. Mas limitações do governo em bancar os tratamentos provocaram uma crise no setor. A saída para várias clínicas foi buscar pacientes no exterior, principalmente no Canadá, EUA, Japão, Arábia Saudita e Israel. Isso criou condições para que agentes também procurassem doadores fora. Sul- africanos não serviam por causa dos altos índices de contaminação por Aids no país e também pelo racismo.

ÉPOCA – Há quanto tempo existe tráfico de órgãos no Brasil?

Nancy – Pelas indicações que temos, o comércio para transplantes vem do final dos anos 70. De acordo com os cirurgiões que entrevistei, no final da ditadura militar era flagrante o tráfico velado de cadáveres, órgãos e tecidos retirados de pessoas das classes sociais e políticas mais desprezadas, com o apoio do regime militar. Um médico veterano, agregado a um grande hospital acadêmico de São Paulo, revelou que cirurgiões como ele próprio recebiam ordens para produzir cotas de órgãos de qualidade. Às vezes, eles aplicavam injeções de barbitúricos fortes e em seguida chamavam dois outros médicos acima de qualquer suspeita para testemunhar que os critérios de morte cerebral haviam sido preenchidos e que os órgãos podiam ser retirados.

ÉPOCA – E depois do período militar?

Nancy – Existe o tráfico aberto e semiclandestino de tecidos e órgãos envolvendo a corrupção de encarregados de institutos médico-legais, necrotérios, etc. Também tenho casos bem documentados no Brasil de roubo de órgãos de pacientes. Um comportamento criminoso por parte de alguns médicos, que tiram vantagem de pessoas submetidas a pequenas cirurgias para remover ao mesmo tempo uma mercadoria preciosa. Um exemplo é o caso de Laudicéia Cristina da Silva, uma jovem recepcionista de São Paulo. Em junho de 1997, um de seus rins foi retirado sem seu conhecimento durante pequena cirurgia para remoção de um cisto ovariano. O cirurgião do hospital explicou que o enorme cisto havia envolvido o rim, coisa altamente improvável. O hospital recusou-se a apresentar seus registros médicos. Laudicéia, porém, deu seguimento ao processo legal. Em julho de 2001, o Conselho de Medicina revelou para mim que o caso estava próximo de ser resolvido por acordo. Como muitos casos que investiguei, esse tipo de acordo inclui uma cláusula de sigilo. Assim, a verdadeira história nunca vem a público.

ÉPOCA – Já houve algum assédio estrangeiro direto com relação aos órgãos brasileiros?

Nancy – A primeira tentativa de conseguir um acordo oficial foi um plano proposto na década de 90 pelo doutor Thomas Starzl, da Faculdade de Medicina da Universidade de Pittsburgh. Starzl propôs um convênio entre a Universidade e a Associação Brasileira de Transplante de Órgãos. Sua instituição transferiria tecnologia de ponta em troca do fornecimento regular de fígados humanos que estivessem sobrando. A revolta do público brasileiro contra esse convênio vampiresco provocou seu cancelamento. Embora os fígados brasileiros não tenham sido entregues a Pittsburgh, muitos outros órgãos e tecidos do Terceiro Mundo chegaram aos Estados Unidos nas últimas décadas.

ÉPOCA – De que forma?

Nancy – Vou dar dois exemplos. Nos arquivos de um líder político de São Paulo encontrei documentos relativos a uma investigação policial sobre o IML local, indicando que milhares de glândulas pituitárias haviam sido retirados de cadáveres de pessoas pobres e vendidos a firmas médicas privadas nos Estados Unidos para a produção de hormônios de crescimento. Na década de 80, um professor de Pernambuco foi processado por retirar milhares de partes internas dos ouvidos de cadáveres de indigentes e vendê-los à NASA para uso em programas de treinamento espacial e de pesquisas.

ÉPOCA – Quais são as principais redes de tráfico?

Nancy – No Oriente Médio existe uma forte rede que interliga compradores de rins de Israel e Europa Ocidental e vendedores em países pobres ex-membros da antiga União Soviética. A Índia fornece órgãos a estrangeiros de muitos países e também tem um mercado interno movimentado, através do qual pessoas das castas superiores compram órgãos das castas inferiores. As Filipinas fornecem rins de favelados para pacientes do Japão, Emirados Árabes e América do Norte. A China fornece órgãos de prisioneiros executados para pacientes da Ásia e América do Norte. O Peru envia a americanos de origem latina rins adquiridos de negociantes falidos e de mulheres vindas de pequenas comunidades andinas.

ÉPOCA – O negócio é permitido em algum país?

Nancy – Não. Mas há brechas legais. A tendência mundial de obter rins de doadores não-parentes vivos é a principal culpada pelo tráfico atual, junto com a ação dos caçadores de rins e os agenciadores, alguns deles médicos. Existem hospitais privados onde a doação de rins vivos para não-parentes é permitida se for assegurado tanto pelo comprador como pelo vendedor que o acordo é voluntário. É um sistema baseado em boa-fé, a qual não se pode garantir que exista. Nos Estados Unidos há cerca de 20 centros de transplante onde se faz poucas perguntas sobre que relação existe entre doadores e compradores. Então eles se localizam uns aos outros via Internet e se preparam para responder as perguntas superficiais.

ÉPOCA – Os pacientes brasileiros vão aos EUA em busca dessa facilidade?

Nancy – O processo é diferente. Os pacientes brasileiros ricos descobrem maneiras de burlar o sistema e conseguir transplantes nos principais centros médicos dos Estados Unidos utilizando órgãos de cadáveres, raramente disponíveis para americanos sem recursos. Pacientes estrangeiros com freqüência se utilizam de intermediários para localizar uma região onde poderão chegar sem demora ao topo da lista. Às vezes, se inscrevem em três ou mais listas regionais de espera nos Estados Unidos, que é um modo legal de furar a fila.

ÉPOCA – Como funciona essa modalidade de turismo médico?

Nancy – Em Israel, onde é mais desenvolvido, os pacientes de hemodiálise entram em contato com intermediários que se passam por agentes de turismo ou pequenos empresários. Eles preparam a viagem para a África do Sul ou Europa Oriental, identificam os doadores de rins e colocam em ação os médicos para efetuar as operações. Os pacientes passam por turistas e viajam em vôos regulares ou fretados. Os doadores são instalados em clínicas ou hotéis de baixa categoria. Os intermediários recebem o dinheiro e pagam as despesas.

ÉPOCA – Quais são os preços dos órgãos e como são estabelecidos?

Nancy – Os preços seguem as discriminações e preconceitos do Primeiro Mundo em relação ao Terceiro. Um rim de doador vivo chega a alcançar US$1 mil na Índia e nas Filipinas, US$3 mil na Europa Oriental e até US$10 mil no Peru. Doadores dos Estados Unidos cobram muito mais, normalmente entre US$50 mil e US$100 mil.

ÉPOCA – Quem são os doadores mais freqüentes?

Nancy – Pobres, soldados ausentes do serviço sem permissão, refugiados políticos e econômicos, desempregados, endividados, pequenos empresários falidos, políticos fracassados, empregados domésticos que se solidarizam com o patrão, prostitutas envelhecidas e sem recursos, pessoas já envolvidas em outras atividades ilegais.

ÉPOCA – Qual é a dificuldade principal nesse tipo de investigação?

Nancy – As vítimas coagidas a vender um rim são amedrontadas e não procuram a justiça. Pacientes que compraram órgãos são levados a crer que os doadores foram bem pagos e protegidos. Os médicos que praticam esse tipo de antimedicina são inescrupulosos e poderosos. O crime organizado está profundamente entranhado nesse negócio e muitas pessoas são subornadas em troca de seu silêncio. A dificuldade principal, no entanto, é que a economia global embotou a sensibilidade tanto de médicos como de pacientes de transplante. Por isso, não vêem conflito algum em obter órgãos de pessoas em situação vulnerável. Existe um generalizado estado de espírito utilitário que reduz a ética médica à simples pergunta: Decidiram vender? Sim? Então, tudo bem. Há pouco pensamento crítico em torno das forças que podem compelir pessoas em apuros a vender a única coisa que possuem, um rim sobrando.

http://revistaepoca.globo.com/Epoca/0,6993,EPT642472-1655,00.html

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